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ESG
Estudo da FGV derruba argumentos para exclusão do agronegócio do mercado de carbono
Estudo reafirma a ‘tropicalização’ de cálculos sobre emissões no agro
Redação
16 de outubro de 2023
Um touro criado no Brasil emite 72 quilos de metano anualmente. Um boi com mais de dois anos de idade, não confinado, emite entre 63 kg a 72 kg de metano anuais, dependendo do Estado da Federação em que está sendo criado.
Um bezerro emite 34 kg se tiver menos de um ano, mas serão 52 kg aos dois anos. Vaca de leite, depende — se for de baixa produção, entre 81 e 93 quilos, e a de alta produção, entre 60 a 96 quilos. Essas informações demonstram que padrões de emissão da agropecuária brasileira foram tropicalizados há anos e são diferentes dos preconizados por organismos internacionais.
Os dados fazem parte de uma acurada análise de pesquisadores do Observatório de Bioeconomia do Centro de Estudos do Agronegócio da FGV. O estudo organiza métricas de emissões de gases-estufa na agropecuária brasileira e derruba argumentos do setor para ter reivindicado sua exclusão do Projeto de Lei 412/2022, que regulamenta o mercado de carbono no Brasil e avançou no Senado há dez dias.
Na introdução de suas 85 páginas, o estudo “Quantificação das emissões de GEE no setor agropecuário: Fatores de emissão, métricas e metodologias” faz uma apresentação de como funciona o sistema do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) da ONU, mostra as disparidades com o sistema nacional e indica os gargalos e desafios para que o inventário de emissões do país avance.
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“O debate sobre o mercado de carbono explodiu, e começaram a falar coisas equivocadas sobre as emissões brasileiras do agro”, afirma Eduardo Assad, pesquisador do Observatório da Bioeconomia e coordenador do estudo.
“Disseram que os fatores de emissão no Brasil não são tropicalizados, mas isso ocorre há mais de 20 anos. Falaram que as métricas que usamos não são corretas e que têm que estar de acordo com as metodologias internacionais”, continua Assad, arquiteto do Plano ABC, da Agricultura de Baixo Carbono. “Ou que não é possível medir quanto emitem as vacas, o que é mentira”.
“A primeira mensagem do estudo é que os fatores de emissão do Brasil estão tropicalizados há muito tempo. A segunda, que temos ferramentas importantes que permitem calcular as pegadas de carbono e emissões em qualquer setor da agropecuária brasileira sem precisar recorrer a mecanismos e calculadoras estrangeiras”, diz.
Assad foi o coordenador técnico do último inventário nacional das emissões de gases-estufa, de 2020, um compromisso que o Brasil assumiu na Convenção da Mudança do Clima da ONU. “Foi um trabalho enorme, que embasou a 4ª Comunicação Nacional do Brasil à ONU e envolveu 300 pesquisadores”, lembra.
O estudo de agora retoma as informações do inventário e as relaciona com métricas internacionais. “É uma espécie de freio de arrumação. É preciso colocar equilíbrio na discussão. Prejudica o mercado não existir validação desses dados e métricas, que têm robustez científica”, diz Assad.
O estudo indica discrepâncias no uso de réguas internacionais de medição em relação às nacionais.
O IPCC, por exemplo, considera que os bois emitem 56 quilos de metano por animal ao ano, “do Oiapoque ao Chuí, enquanto nós trabalhamos com boi de mais de 2 anos, boi até 2 anos, bezerros.
E vamos criando categorias para demonstrar quanto realmente a pecuária emite no Brasil”, continua. O índice do IPCC é único para toda a produção na América Latina.
“O estudo mostra como é complexo mensurar um sistema que é tão heterogêneo”, diz a bióloga Camila Genaro Estevam, também pesquisadora do Observatório e autora do estudo. “Criar um boi no Pará é diferente de criar um boi no Rio Grande do Sul. Mas o IPCC tem um número de fator de emissão para fermentação entérica que é único para todas as classes de bovinos”, explica.
“Nós, contudo, observamos raças diferentes, que terão alimentação diferente, estarão em sistemas produtivos diferentes. Podem estar em uma pastagem bem manejada ou em uma degradada, ter um tipo de alimentação com aditivo alimentar, como no Rio Grande do Sul, ou ser um boi que se alimenta exclusivamente de pasto, como no Pará. Isso dá diferença nas emissões”, afirma.
Outra distorção, observa Camila Estevam, está no cálculo das emissões da soja. As métricas do IPCC podem estimar emissões três vezes superiores aos cálculos dos valores nacionais. O ponto da discórdia é o uso de nitrogênio, fertilizante de alta emissão. “Os cálculos do IPCC consideram que usamos nitrogênio, mas a soja brasileira usa fixação biológica de nitrogênio, que é prática sustentável, assim como o plantio direto”, esclarece Assad.
A terceira mensagem do estudo é pressionar órgãos internacionais a reconhecerem as métricas e práticas adaptadas à realidade tropical. “O Brasil deve se posicionar como líder da agricultura sustentável, apresentando um conjunto claro de critérios e métricas de emissão”, recomenda o estudo.
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